Credores votam hoje plano de recuperação da Samarco

Credores votam hoje plano de recuperação da Samarco

Depois de atrasos e remarcações para realizar a assembleia geral, credores da Samarco esperam votar hoje (10/03/2022) o plano de recuperação judicial da empresa, disseram fontes próximas os credores. Credores financeiros, apurou o Valor, vão votar contra a aprovação do plano de recuperação judicial apresentado pela Samarco. As sócias da empresa, Vale e BHP Bill, que também são credoras da companhia, não votam nessa assembleia.

 

A recuperação judicial da Samarco envolve dívida de R$ 50,5 bilhões, sendo R$ 24,1 bilhões com as acionistas e R$ 26,4 bilhões com os financeiros, fundos que compraram os títulos da dívida da companhia com deságio. Esse grupo contratou Tito Martins, ex-presidente da Nexa (grupo Votorantim), para elaborar um plano de recuperação alternativo para a mineradora.

 

“Se não for apresentado um novo plano [pela Samarco], os credores podem votar contra, e apresentar um plano próprio para tentar viabilizar a recuperação judicial de forma mais equitativa”, disse uma fonte. A legislação permite que, antes de ser decretada a falência de uma empresa, os credores apresentem ao juízo e votem um plano de recuperação judicial alternativo, caso o plano original apresentado pela empresa seja rejeitado pelos credores.

 

Há duas semanas, depois que a assembleia foi suspensa por falta de quórum, a Samarco apresentou à Justiça um novo plano de recuperação, para ser avaliado pelos credores. A primeira proposta previa um desconto de 85% na dívida, com pagamento em 2041, ou a conversão da dívida em participação acionária na companhia.

 

A nova proposta prevê o pagamento da dívida em 2041, com desconto de 75%, ou a troca da dívida em ações preferenciais e senior notes, com vencimento em sete anos e remuneração de 6,5% ao ano. Os títulos teriam garantia firme de BHP e Vale. Há ainda a opção de emissão de “junior notes” no total de US$ 700 milhões, com vencimento em 14 anos e taxa de 7,5% ao ano.

 

A nova proposta também foi rechaçada pelos credores financeiros, conforme objeção ao plano enviada à Justiça na segunda-feira. No documento, os credores financeiros alegam que, apesar da Samarco ter obtido o dobro do prazo definido pela legislação para negociar o plano de recuperação com os credores, a empresa e suas controladoras Vale e BHP

não escolheram esse caminho. Os credores afirmam no documento que o deságio total da dívida proposto pela Samarco é de 96,8% para os credores quirografários, considerado por eles “abusivo”.

 

ontes próximas da Samarco discordam. Dizem que a empresa fez três propostas diferentes aos credores, desde dezembro, com melhorias consecutivas, mas não houve aceitação pelos credores financeiros. O nível de recuperação de crédito, pela última proposta da empresa, seria de 30%, disse fonte. Para cada dólar, os credores recuperariam 30 centavos.

No mercado, os títulos de dívida de Samarco valem 0,45 centavos por dólar, mas não têm liquidez. Na visão das fontes, os fundos querem recuperar 100% do crédito, o que levará a recuperação para um litígio judicial longo.

 

“Buscamos uma saída que permita dar continuidade e sobrevivência à Samarco, mas os fundos querem quebrar a empresa”, disse fonte ligada à companhia. Caso o plano da Samarco seja rejeitado hoje, os credores devem apresentar outro plano em curto espaço de tempo e, nessa segunda fase, Vale e BHP vão dizer que, na condição de credores, querem votar o p

 

Embora a Samarco seja operacionalmente viável, o peso da dívida coloca o futuro da companhia em dúvida caso esse passivo não seja reestruturado. A Samarco, que foi a maior produtora de pelotas de minério de ferro do mundo, chegou a produzir 30 milhões de toneladas por ano. Hoje tem capacidade de produzir 7 milhões de toneladas anuais.

 

Todo o problema da empresa começou com o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, em uma das maiores tragédias socioambientais da história do país. Desde então, a Samarco luta para se recuperar e, desde que pediu proteção à justiça, em 2021, trava uma batalha contra credores que compraram os títulos de dívida no mercado secundário.

 

A proposta alternativa busca tornar os credores sócios da Samarco, mas sem direitos políticos, “de modo que os créditos sejam pagos por meio de eventuais, futuras e incertas distribuições de dividendos, que podem nunca ocorrer”, diz o documento que questiona o plano da Samarco. Isso porque a empresa tem um prejuízo acumulado de US$ 55 bilhões

e está impedida de distribuir dividendos. E não há como prever quando a companhia poderá voltar a pagar dividendos.

 

Os credores também questionam a proposta da Samarco de fazer uma nova emissão de dívida de US$ 1,4 bilhão, sem o detalhamento sobre a destinação desse recurso. O documento foi enviado por representantes de fundos como Golden Tree, Moneda, Oaktree e Maple Rock. Os grupos de detentores de bônus são representados pelos escritórios de advocacia 

Padis Mattar Advogados, Ferro, Castro Neves (FCDG) e Davis Polk. O banco de investimentos Houlihan Lokey também assessora os credores internacionais.

 

Já a Samarco é representada pelo J.P.Morgan, a Vale pelo Moelis & Co, e a BHP pelo Rothschild & Co.

 

Fonte: "Credores votam hoje plano de recuperação da Samarco". Valor Econômico. Acesso em 10/03/2022. Para acessar ao site clique aqui.

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